Luís de Aguiar é natural de Oliveira de Azeméis, nasceu em Abril de 1979.Concluiu em parte o curso básico supletivo de música clássica no Conservatório Calouste Gulbenkian de Aveiro.É fundador e coordenador do grupo poético Oliveirense.Foi premiado em vários concursos literários no género de poesia.

Sobre o Luís, nas palavras

Se a arte é redescoberta permanente, desconstruir para reerguer com mais firmeza, atingir a construção do real pelo suposto irreal, ou melhor, pelo real que desconhecemos ou com o qual não estamos familiarizados então, sem dúvida, a arte reside nesta escrita. Não é pretensão, é convicção. Estes versos rasgam a trivialidade para nos fornecerem uma evidência perturbadora.
Trata-se de uma escrita de grande teor pictórico submersa na clareza das suas imagens. Traduzindo a realidade, apurando os sentidos e desregrando-os em reminiscências simbolistas, nas pegadas de Rimbaud, no arfar de Ramos Rosa.
“Já imerso da água, esta sede vazia solfeja-me / nas entranhas, entoa-me o grito em labaredas”.
Uma escrita amadurecida, exorcizada, isenta de artifícios ou desvios inutilmente retóricos. Fruto de uma tradução directa do quotidiano. Não há transcendente, não há divino. Há o fascínio exaustivo pelos dias que são somente dias: “homens cheios de vozes, sabores, alegrias. / esperam as mulheres com o cheiro do vinho / nos dedos, na boca, nas bocas, esperam / com os filhos atados às pernas, à bacia do corpo”.
Não pretende intervir, não pretende provocar, não pretende chocar, não pretende deleitar, diagnosticar, ou prever. Definitivamente, não pretende. E por isso consegue-o. Alcança, penetra, cria ambiências, transporta o leitor, embala-o e quando decide, sem mais nada, acabar, cospe-o novamente para a realidade, deixando-o aturdido na linha vertiginosa que separa o mundo lírico do mundo dito concreto. Entrega o leitor à “múltipla esquizofrenia das minhas pálpebras”.
Apesar das fontes de influência, ler Luís Aguiar é assistir à formação de um universo díspar, autêntico. Com toda a violência que só a autenticidade consegue conferir.
“Eis o meu lugar esquecido: / a noite branca, extensa em toda / a visão”.
Um desafio assíduo de conflito do íntimo com o seu próprio reflexo e com o exterior ou então o confronto com a hipótese da fusão de ambos numa afinidade inovadora, na criação. Um autor de referência.


Sara F. Costa

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