Luís de Aguiar é natural de Oliveira de Azeméis, nasceu em Abril de 1979.Concluiu em parte o curso básico supletivo de música clássica no Conservatório Calouste Gulbenkian de Aveiro.É fundador e coordenador do grupo poético Oliveirense.Foi premiado em vários concursos literários no género de poesia.

Luz Extinta

Prefácio


Ao Luís, em Oliveira de Azeméis



Há cerca de quatro anos atrás, prefaciei o primeiro livro do Luís. Um pequeno texto que me saiu da emoção e da razão. Hoje, com similar emoção e talvez menos razão – envelhecer traz-nos destas prerrogativas, poupando-nos aos juízos implacáveis dos maldizentes de função e feição – inicio o prefácio do seu segundo livro.
E não seria eu, se não começasse por agradecer-lhe o carinho com que, uma vez mais, me convidou, similar ao que sinto aceitando o seu convite. Desta vez, não quero falar do seu ”labor” poético, que o é, sem a menor dúvida. Por subjectivas razões, que, espero, ele me perdoará, depois destas palavras.
Direi apenas que os últimos poemas, que me deu a ler, são pérolas de outro mar, que é também este, mas não o é. Ou seja, e ainda bem, o Luís não é só esta lição – como o é todo o acto poético – de som e sentido; é algo mais, o que, neste meu registo, equivale a muito mais.
Depois, pedir-lhe-ei licença para abordar, ainda que imperfeita e incompletamente, o centro deste livro – a sua essência iluminada – tentando “justificar” o que, para mim, ele significa.
Como verão, “Luz Extinta”, é um livro oliveirense, no mais rico dos sentidos; dos sentires. Mas, podia sê-lo muito mais. Explico: nasci num tempo outro, por puro privilégio do fado, e embora o não tenha confirmado, sei que serão muito poucas as figuras nomeadas que fisicamente poderão ter privado com o poeta. O que, em minha opinião, só engrandece este discurso apaixonado por raízes (as minhas raízes!).
Neste sentido, faltam-me rostos, vozes, gestos, o passado/presente de quem se maravilha com o respirar tranquilo da “vila”. Sinto-lhes a ausência, mas compreendo que, talvez, nunca a sua memória tenha encontrado no Luís o porto de abrigo, que exorciza o esquecimento.
Pelo dito, quero considerar este livro perenemente por acabar. Porque nele se inscreverão muitas outras “luzes” oliveirenses, passadas, presentes e futuras.
Diz o povo que “santos de casa não fazem milagres” e nós, nados e criados em terras de La-salette, que são também Terras de Sta. Maria, mais preocupados com néons distantes, olvidamos com demasiada facilidade aqueles que inscreveram a terra-mãe na cultura de um povo. Este livro dá-lhes o sopro que impede o esquecimento. Um sopro poético iluminando o que neste oliveirenses impressionou o poeta. E, lado a lado, numa fraternidade de origens, o universal Ferreira de Castro, que saudava as novas plantas tirando o chapéu, une-se à luz das imagens de Fernando Paul e a todas as outras vozes recuperadas. O paradoxo do título é, pois, isso mesmo: a anulação do esquecimento pela poesia. Não esqueço as casas: hinos ao que tão levianamente temos vindo a deixar destruir por máquinas cegas; implacáveis! E cada casa que sucumbe, da mais humilde à mais rica, é uma memória espezinhada: a pura impossibilidade de a transmitirmos aos nossos filhos, até porque a luz do senhor Paul fixou este viver, mas não pode presentificar o que – sem necessidade – deixámos levar pelos ventos “civilizados”.
E tanto mais me oferece esta “Luz Extinta”, que aqui não cabe dizer.
Fica o desejo de que o livro, para além de fruição poética, gere nos oliveirenses o legítimo orgulho de o serem.
Filha assumida desta terra, registo aqui o meu profundo agradecimento ao poeta.



Ivone Bastos Ferreira
Mês de Maio de 2004

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